The Arrival

Tem dias que dá gosto vaguear pela net, pelo simples facto de que uma despreocupada visita a um qualquer site, nos pode transportar até uma outra realidade. Andava eu pelo Newsarama na passada semana e "pás", levei com isto em cheio. Coloquei-o logo aqui no 9ª para um preview, mas só hoje é que isto andou para a frente. Sem mais rodeios, vamos lá àquilo que interessa.

The Arrival, é um livro com a assinatura de Shaun Tan. Este senhor é ilustrador e costuma optar por trabalhar nos chamados Picture Books, que estão num patamar acima da simples ilustração, por terem uma dedicação e acabamento acima do comum, como podem ver nas ilustrações abaixo. Têm quase uma qualidade fotográfica, as ilustrações deste senhor. Foi desta forma que Tan decidiu mostrar-se ao mundo, vincando bem a qualidade no seu trabalho.

Mas passemos a The Arrival. O livro trata sobre migração humana, mostrando-nos o porquê da necessidade que tantas almas têm de o fazer, sacrificando família, país e costumes, tudo em busca de uma vida melhor. No entanto, a visão que Tan nos traz é um tanto ou quanto poderosa, mesclando realidade com fantasia, utilizando relatos verídicos e influências de outras estórias. Enquanto o artista fazia a sua pesquisa, falou com diversos emigrantes e concluiu que existia um fio condutor comum a todos eles: as memórias. Ao invés do impacto que novas cidades ou paisagens pudessem ter nas suas mentes, a simples compra de um bilhete de autocarro, o cozinhar de uma refeição ou a procura de um novo emprego, foram esses os momentos mais marcantes das memórias dos migrantes. Desta forma, Tan conseguiu passar para o papel um tom mais íntimo, mais preocupado com os pormenores do dia-a-dia.

A arte, como referi anteriormente, é de uma qualidade quase fotográfica. É um verdadeiro regalo para a vista poder contemplar cada uma das páginas deste The Arrival. Os tons ficam-se pelo preto e branco, com um toque de desgaste (amarelado), procurando dessa forma dar mais realismo a toda a composição, remetendo-nos para um universo no mínimo familiar, com o qual possamos criar afeição e empatia. De certa forma, poucas são as famílias que não passaram por situações semelhantes, pois temos sempre um familiar que decidiu emigrar para melhorar a sua vida e proporcionar melhores condições aos seus.

Mudança extrema de ambientes, novas profissões num país distante do seu e a tentativa de integração falhada, são lugares comuns nestas pessoas. Shaun Tan passa-nos esta experiência de vida, sem recorrer ao típico desgraçadinho, para que a possamos compreender melhor, e o melhor de tudo, através da Banda Desenhada. Ficam algumas páginas para apreciação.

Boas leituras!

Mauro Bex : maurobindo