terça-feira, abril 10, 2007

Leituras FDS#3 - Loki


Editado pela Devir em finais de 2005, Loki (mini-série de quatro números, aqui compilada em formato capa mole) é um título que fará as delícias dos amantes de todo o universo Asgardiano. Basicamente, Loki trata sobre “Ajoelhai-vos, deus do Trovão. Ajoelhai-vos perante o vosso conquistador. Ajoelhai-vos como a vossa justa paga perante Loki, filho de Laufey. Ajoelhai-vos tal como toda a Asgard o faz, perante o seu senhor por direito.”, mas é muito mais profundo e elaborado, sendo uma óptima leitura para que o leitor treine o seu discurso na terceira pessoa. É que, como estamos perante um enredo que se desenvolve à volta de deuses, estes tendem a utilizar o discurso mencionado, digamos que mais antigo, soando maravilhosamente a qualquer ouvido mais interessado. Opções à parte, temos uma versão que não é a mais habitual, ou seja, o discurso, a história, a vivência daquele que, normalmente, é o menos amado. Em Loki é-nos dada a versão do mau da fita. Ao mesmo tempo, temos mais disponibilidade para ficar a conhecer o meio-irmão de Thor e o porquê de Loki ser filho de Laufey e o motivo pelo qual Odin o perfilhou. Durante a estória assistimos à curta ascensão do deus da trapaça ao trono de Asgard, aos vários diálogos que este vai travando com alguns dos seus “aliados” nessa conquista, às visitas aos “convidados especiais” das masmorras tais como Lady Sif, Balder e claro está, Thor. Já mencionei que este último inicia este título de joelhos, humilhado perante toda a Asgard? Não é um bonito quadro para os fãs do deus do trovão.Interessante foi poder perceber como Loki lida com o seu novo estatuto e o conflito interno que esta situação vai gerar na sua mente ardilosa. Loki sabe que no fundo, Thor foi o único dos irmãos que nunca nutriu indiferença por si. Não falo de desprezo ou humilhação, apenas de um sentimento que acabou por levar Loki a nunca querer eliminar Thor, mas apenas tratá-lo da mesma forma, a pagar a humilhação e o desdém na mesma moeda. Este será o sentimento que os ligará a ambos para sempre. No fim de contas, Loki procura mostrar a todos os habitantes do reino que tem a capacidade de diminuir o adorado Thor aos mais ínfimo ponto, até mesmo matá-lo se assim o desejasse. Curioso ou não, não é isso que o deus da mentira pretende, e esse vai acabar por ser o seu fado. “Eis o infeliz paradoxo: o trapaceiro pode enganar a todos menos a si próprio.”; é este o fio condutor de toda a trama.

Passando à arte que não a da escrita, esta está simplesmente soberba. O tipo de traço de Esad Ribic assenta que nem uma luva aos espaços físicos e temporais onde se desenrola o argumento de Robert Rodi, sendo depois colmatado com uma aplicação de cor que consegue acompanhar, ou até mesmo superar tudo o resto, pois a mesma é aplicada de forma directa no desenho, sendo toda a BD uma autêntica pintura. É a mesma técnica que o artista utiliza nas várias capas que executa, mas que, neste caso, foi trabalhada na totalidade da obra com resultados acima da média. Confesso que fiquei surpreendido com o nível de pormenor e cuidado com o detalhe, não muito comum no mundo dos comics. Tal surpresa foi bastante agradável, já que na maioria dos casos o estilo utilizado nos comics não passa por este tipo de abordagem gráfica, infelizmente. Parece que têm de ser os europeus a “chocalhar” um pouco os hábitos dos estado-unidenses a que todos nós fomos habituados. Como conversava há dias com dois colegas, parece que os pormenores mais minuciosos e os fundos trabalhadíssimos ao mais ínfimo detalhe são exclusivos do estilo e mercado europeus. São estilos, cada um com os seus prós e contras. Ainda bem que existe diversidade e opção de escolha, caso contrário voltávamos ao tempo da outra senhora, como parece ser o desejo de muita gente. Realmente a memória portuguesa é curta e a ignorância continua a servir-se a rodos. Analogias à parte, digo-vos que dá vontade de voltar ao início quando chegamos ao fim, nem que seja só para folhear o livro e apreciar a arte de Ribic. No final existe um pequeno mimo, as quatro capas originais da mini-série, todas de Ribic.

Fazem falta mais publicações de BD em Portugal, pois quanto maior for a opção de escolha mais bem servidos estamos. Mais, no caso concreto da Banda Desenhada nunca é demais. A Devir deve continuar a apostar neste nicho de mercado, onde me parece, se sente mais à vontade que em tudo o resto. Têm muito a ganhar e nós, os leitores e seguidores da 9ª arte, também o temos. Não desistam que nós agradecemos. Nunca.
Boas leituras!

P.S. – Obrigado ao Renato pelo empréstimo do livro. Haja alguém com quem se possa ir trocando BD. Ufa!


Não dê erros, verifique os seus textos no flip online
Mauro Bex : maurobindo

4 comentários:

João Rosa disse...

Das melhores cenas que a Devir editou por cá. É de ler!

Unknown disse...

Nem mais! Desfolhar o livro já regála a vista.

Anónimo disse...

Por acaso foi das poucas boas coisas que devir editou nessa coleção,mas a Devir pecou ao nao ter editado a saga da Fenix Negra,o Hulk do Peter David,o Aranha do Mcfarlne,o Thor do Walter Simonson,A Morte de Gwen stacy,Iron Man:Armor Wars etc
Tudo classicos,que é para isso que essa coleção devia servir em lugar de pseudo classicos como os Inumanos.

Abracos
Grimlock

Unknown disse...

As opções do costume que deu no que se viu depois. É pena...