Há tempos atrás, tal era a fuçanga de ler novo do Surfer, que decidi ir lendo a mini-série “Requiem” à medida que os números iam saindo, coisa que habitualmente não faço, pois gosto de ler uma história do principio ao fim, sem interrupções (quando de mini-séries se trata). Não deu grande resultado. Depois de dois números larguei e só voltei a pegar nos comics um tempo após a sua conclusão. E se valeu a pena ler tudo seguidinho…
Para além do argumento de Strackzinsky estar soberbo, a arte de Ribic acompanha a classe (arrisco mesmo dizer que a supera). Mas quanto à arte, já lá iremos. Centremo-nos no argumento, na escrita, nos diálogos e rumo que a estória leva, conduzindo-nos pela derradeira jornada do Surfista. Sim, o homem vai morrer, ou a série não se chamaria “Requiem”. Ao sentir o seu corpo começar a ter uma estranha reacção, o Surfer visita o seu amigo Reed Richards e os restantes Fantastic Four. Ao contar a sua enfermidade a Reed, este submete-o a uma série de testes dolorosos que só confirmam aquilo que já é sabido, a matéria cósmica que protege o Surfista do frio espacial e do calor das estrelas está a desintegrar-se. Sue desfaz-se em lágrimas durante horas a fio, sem que o consiga controlar. Apesar de tudo, foi Norrin Radd quem salvou a Terra de Galactus com a ajuda dos 4 Fantásticos. Após diagnóstico irreversível, o Surfista parte agradecendo a amizade de Reed e Sue e tudo o que tentaram fazer por ele. Restam-lhe poucos dias de vida e um planeta para revisitar. E ainda um outro para regressar… assim termina o #1.
No #2, o S.S. começa com um pequeno auxílio ao Homem-Aranha, numa luta com um daqueles patifes, resolvendo o problema num ápice, para espanto do aranhiço. Segue-se uma longa conversa entre os dois, que acaba por nos dar a entender muito do que vai na cabeça dos dois. A surpresa deste segundo número é o facto do Surfer conceder ao Homem-Aranha uma viagem inesquecível, que este declina em detrimento de Mary Jane. Ao aceitar tal honra, Mary Jane viaja por breves instantes pelo cosmos na companhia do Surfista. No retorno, a emoção ocupa o seu lugar, devido à experiência memorável e única vivenciada pela moça. Um portento.
O terceiro comic trata sobre o regresso do protagonista ao seu planeta natal, Zenn La. Mas ainda não será desta que tudo ocorre sem contratempos. Pelo caminho o prateado dá de caras com uma infindável guerra entre duas raças que teimam em não se entender. E tudo para divertimento de duas almas. Os dois governantes máximos de ambos os povos fazem a população viver uma farsa que se arrasta há milénios, fazendo desta guerra um simples acto de entretenimento para ambos, que se consideram os mais superiores de entre a sua própria raça. Óbvio que vai dar bronca. Alguma vez o Surfer ia ficar de braços cruzados perante tamanha crueldade? Não só dá uma boa lição aos dois como ainda fica eternamente representado como o ser responsável pela transformação das vidas daqueles povos, quer em estátuas ou histórias.
No quarto livro, o poético retorno do habitante mais adorado e desejado, para morrer nos braços da sua eterna amada Shalla Bal.
Para finalizar, um breve apontamento à arte de Ribic. Quem passa a vida a desenhar tem de ter cautela com um pormenor, o de não se deixar estagnar na sua evolução artística. Esta máxima aplica-se a todas as profissões, mas há umas mais visíveis que outras. Até agora, Ribic não só tem mantido o seu nível bem elevado como ainda o consegue melhorar a cada trabalho. A arte deste senhor em Requiem está bem lá no alto… “Silver Surfer: Requiem”, uma história a não perder.
Mauro Bex : maurobindo