Quando há uns meses a Marvel anunciou que iria ter uma série contínua focada na vida de uma muçulmana adolescente, sabia que o número #1 não me escaparia. Antes sequer do título estar nas bancas, muitas teorias foram escritas e gerou-se muita conversa em torno do que dali sairia. O que é certo é que quando o #1 saiu eu deitei-lhe logo as mãos. E gostei! Subscrição feita.
Passados seis números, Ms. Marvel ganhou força e parece-me ter vindo para ficar um bom tempo. No geral, este Ms. Marvel tem um ar adolescente, quer na forma como aborda a vida de Kamala Khan e os seus dilemas próprios da idade - amizades, escola, os grupos, o bairro, a luta pela independência e romper com as regras impostas pelos pais, entre muitas outras coisas; quer como o traço de Alphona nos faz mergulhar nessa adolescência. Este é um dos pontos altos do comic, a maneira como desenho encaixa no argumento e nos faz viajar para aquele universo.
A transformação de Kamala em Ms. Marvel, que demora a ser percebida pela mesma e a faz reagir com total estranheza ao sucedido, dá-se devido a uma espécie de contágio provocado por uma neblina (se não sabem do que se trata pesquisem um pouco sobre isto, pois "atravessa" vários títulos da Marvel). Até aqui tudo banal neste meio de super-heróis, mas o mundo não está ainda habituado a lidar com muçulmanos no main stream. E Kamala Khan é, sem dúvida, um marco na história da Marvel e dos comics dos Estados Unidos, a primeira super-heroína muçulmana! Já era tempo... tendo em conta que, hoje, a religião número um no mundo é o Islão.
Ms. Marvel é um comic assumidamente teenager, mas que é interessante de ser lido por quem não o é. Para além do cariz histórico que referi acima, pode fazer-nos reviver alguns momentos próprios daquela idade, como a rebeldia, e mostra ao mundo que um muçulmano é de carne e osso, igual a qualquer outra pessoa. Espero que com o tempo venham mais personagens numa linha semelhante e o os olhos do Ocidente se comecem a abrir mais para além de estereótipos que as notícias adoram vender e manipular.
Fica o meu agradecimento aos artistas, G. Willow Wilson no argumento (que continua para o arco seguinte, para meu contentamento) e Adrian Alphona na arte (que com muita pena minha, terminou a sua contribuição no #5, o fecho do primeiro arco da estória). Para mim a arte de Alphona fazia parte do quadro adolescente que estava patente no título. O seu traço é de grande fluidez com um toque street, parecendo por vezes que estamos a olhar para graffiti. Com a sua partida, a história e a personagem principal ficaram mais pobres. Nesta última tira do #6, a arte já é de Jacob Wyatt.
Boas leituras!